Poupar ou Não Poupar eis a questão

Muitas pessoas me dizem que quem poupa não vive, que a vida é curta e foi feita para ser vivida, e coisas do tipo. Concordo com a segunda parte, mas discordo da primeira. Tenho lido muitas pesquisas econômicas sobre felicidade, e apesar de apresentarem dados conflitantes sobre a renda ideal para ser feliz elas convergem em um ponto: um grau elevado de consumo não trás mais felicidade.


Pelo menos desde Adam Smith no século XVIII, os economistas flertam com a psicologia, em  1992, Gary Becker ganhou o prêmio Nobel da economia por suas pesquisas que relacionam microeconomia com o comportamento humano, mas somente em 2002 quando um psicólogo israelense chamado Daniel Khaneman ganhou o prêmio Nobel de Economia, surgiu verdadeiramente um novo ramo das ciências econômicas chamado Economia Comportamental, que a cada ano vem ganhando mais espaço dentro das pesquisas econômicas. A economia comportamental entre outras coisas tenta mensurar a felicidade e apesar de ser clichê, as pesquisas econômicas mostram que a felicidade tem forte influência das relações sociais, da proximidade da família e dos amigos, e sob ponto de vista do dinheiro/consumo: ter moradia, segurança, educação e acesso a um bom sistema de saúde. As roupas caras, carros de luxo e outras compras do tipo, por usa vez,  tem uma fraca relação com a felicidade, principalmente para as famílias de classes mais abastadas.


Quanto maior a renda maior o consumo, se ganhamos mais, consumimos mais, é isso que diz a Lei Psicológica Fundamental do economista Keynes. Por outro lado os economistas têm um conceito bem interessante chamado utilidade marginal descrescente que numa versão simplificada diz que quanto mais consumimos de determinado bem, menor será a nossa satisfação com o seu consumo, isso explica porque com sede pagaríamos mais pelo primeiro copo d'água do que pelo segundo. Assim, se o nosso consumo adicional não nos trará grandes elevações na nossa utilidade (satisfação), para quê então elevar o nosso padrão de consumo e ser escravo dele?


A ciência há muito detectou uma assimetria no nosso sistema de recompensa no consumo, enquanto a felicidade de subir um degrau na escalada do consumo é relativamente pequena, o sofrimento de descer o mesmo degrau é muito maior. Somo avessos ao risco: a satisfação do ganho é menor do que a dor da perda.  Isso quer dizer "na dúvida não ultrapasse", você pode viver muito bem sem nunca ter tido um carro, mas viverá pior se tiver um carro e precisar vendê-lo, o mesmo se aplica a TV a cabo, restaurantes de luxo e a maior parte dos bens de consumo por isso é melhor pensar bem antes de aumentar o seu padrão de consumo.


Para contrastar com aqueles que dizem que dinheiro é para ser gasto, e poupar é levar dinheiro para o caixão, temos milênios de sabedoria popular, filosofia e religião que pregam o desapreço aos bens materiais e ao consumismo. Um dos grandes argumentos econômicos que corroboram com a idéia de aumento do consumo nã trás felicidade é que desde a segunda guerra mundial, a renda e o consumo aumentaram exponencialmente, porém a felicidade mensurada se mantém constante, e em alguns lugares vem até diminuindo, as excessões ficam por conta das sociedades pobres, onde realmente a elevação de renda e consumo se traduz em maior satisfação social.


Na prática as pessoas que conseguem pagar suas contas e guardar algum dinheiro são mais felizes do que aquelas que mesmo consumindo mais, vivem enforcadas com suas contas. Muitos divorciados alegam que os problemas financeiros foram o principal motivo da separação no casamento, por exemplo, enquanto que outras tantas começam a ter problemas de saúde ou até mesmo cometem o suicídio por causa de problemas com dinheiro.


Afinal para que poupar?

Poupamos para cumprir um objetivo, ou simplesmente para nos sentirmos mais seguros diante das adversidades da vida. Que objetivos? Que Adversidades?


Os objetivos são individuais e tem a ver com as individualidades e peculiaridades de nossa vida, alguns poupam para abrir seu próprio negócio, outros poupam para comprar uma casa na praia, mas apesar disso temos muitos objetivos em comum, diria que os principais são: Automóvel, Moradia e Aposentadoria.

As adversidades podem ser dos mais variados tipos: "as coisas sempre podem ficar pior do que já estão", assim as reservas são bem vindas em casos de acidentes, problemas de saúde e desemprego, ninguém está livre desse tipo de problema, e nada mais tranqüilizador nessas horas do que ter uma boa reserva financeira, caso contrário os problemas se somarão ou será que comprar as roupas da moda ajudará em alguma coisa nessas situações?

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